terça-feira, 8 de janeiro de 2013


Continuando de onde paramos!

Eram meados dos anos noventa, e eu atuava sempre à noite, portanto, fundamentalmente, rolavam aqueles programas “Momentos do Amor”, com locutores de vozes pomposas e músicas para curtir uma boa fossa. Naqueles tempos, a programação evangélica ainda não havia hegemonizado as rádios e TV’s durante as noites e madrugadas, então, os insones tinham, se não uma vida mais feliz, ao menos uma solidão povoada por seus próprios demônios e não pelos exorcizados por Malafaia e Waldomiro [ e agora toca uma música do Caetano e um rapaz oferece ao pai que faz 84 anos hoje]
A essa altura você deve se perguntar que som rolava nas rádios daquela época, né? Bem, tinha de tudo: rolava umas coisas da década perdida, como Marvin Gaye, Cindy Lauper, Bon Jovi, Aerosmith. Tinha também os sucessos do momento: R.E.M., Guns, U2 e Joe Cocker (seja lá como se escreve). Em termos de música nacional, sempre apareciam Lulu Santos, Zezé de Camargo e Luciano, Leandro e Leonardo, RPM, Roupa Nova, Djavan, Paralamas, Legião, eventualmente, um sucesso da Marisa Monte, Adriana Calcanhoto [“eu perco o chão/ eu não acho as palavras/eu ando tão triste/eu ando pela sala], e claro, presença sempre garantida e ilustre era de a “Robertus Carlo”.
Apareciam, vez ou outra, alguns super hiper ultra mega clássicos da noite e dos corações partidos: “I’ll be there” dos Jackson Five, “My endless Love” [trilha sonora de “Uma história de amor”, outro filme que, não fala sobre rádio, mas vale a pena], “Stand by me” do John, algum sucesso mamão com açúcar do Caetano ou do Tim Maia e muitos etc etc etc. Não tem como citar todos aqui, mas valeria a pena organizar uma playlist para escutar enquanto tomo uma cerveja com os amigos.
Além disso, o meu imaginário infantil era povoado pela programação não musical das rádios e programas: “Rosicleide do Cristo, oferece essa música para Leandro do Grotão.”, “Sheyla dos Funcionários manda um recado para Alecsandro do Sesi de Bayeux: Alecsandro, eu te amo! Você é minha vida, é o ar que eu respiro, é o sol que me ilumina. Todos os obstáculos do mundo não serão capazes de nos separar!” [ tá tocando “Call me, maybe”, putz, eu adoro essa música. Acho taaao gay. Sim, eu faço coreografia com ela!]. Eu pensava: quem será Rosicleide? Onde trabalha? Como conheceu Leandro? Quais serão os obstáculos que impedem esse amor? Será que um dia eu mandarei uma mensagem para alguém num programa desses? Eu não sabia de muita coisa na vida, mas pelos nomes das pessoas, os bairros onde moravam, os tipos de recados, eu imaginava que eram pobres, empregadas, pedreiros, lixeiros... achava aquilo tudo meio bonito, mas também meio ridículo e risível. Sabe como é, essas distinções e preconceitos de classe a gente apreende e introjeta bem rápido e cedo, pelos mecanismos sociais mais variados.
Agora já está na hora de terminar esse conversa! Como falei, o namoro da minha irmã que deu origem a essa prática acabou, mas eu continuei ouvindo rádio deitada no chão da sala por muitos anos ainda, até a adolescência. Abandonei isso com o advento de um computador e internet no meu quarto, a mp3 revolucionou minha relação com a música, mas isso já seria assunto para outro post. Outra questão, é que meu gosto musical tornou-se, cada vez mais, algo distante da programação das rádios, além das mp3, os CD’s foram sempre uma opção preferível ao rádio a partir de determinado momento da minha vida [agora, tô ouvindo a música do Super Mario World em forma de chorinho, incrível isso, não? Que surpresa adorável para uma madrugada].

Por hoje é só, pessoal!

P.S.: quando acabei de escrever o texto, achei uma rádio tocando o Concerto de Dvorak para Cello. Nem preciso dizer que foi o grande momento da madrugada, não é?! O primeiro movimento sempre me causa um prazer quase sexual, porém, com algo de sublime que o sexo não tem! Mas era com o Yo Yo Ma tocando, prefiro o Rostropovich!

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Uma madrugada no aeroporto - parte 1


Uma madrugada no aeroporto [absolutamente vazio, vale ressaltar, até me espantei] apresenta-se como uma ótima oportunidade para escrever um texto para o blog recém inaugurado, não?
Indo direto ao assunto, sou daquelas pessoas que não conseguem viver sem música, e sou assim desde que me lembro de existir. Música é uma parte muito importante da minha vida: para tomar banho logo pela manhã, para ir andando até a biblioteca, para aguentar a fila do bandejão, para aguentar a solidão dessa cidade....agora, por exemplo, os fones no ouvido estão a todo vapor [voltarei a isso daqui a pouco].
A lembrança musical das mais antigas que tenho é a seguinte: meu pai tocava violão e, ao menos na minha cabeça, tocava sempre as mesmas músicas [meu velho não tinha um repertório lá muito variado]. E de tanto ele repetir, eu, uma criança sempre atenciosa, aprendi a cantar. Cantava “Chão de estrelas” e o meu pai acompanhava no violão. Imagino que ele devia achar aquilo lindo, afinal, era A música preferida dele. Coitado do meu pai, acreditava que eu era um prodígio. Não o condeno, uma criança de cinco anos cantando “Chão de estrelas” até que empolga. Mas disso não passei, ali se encerraram todos os meus dotes artísticos e musicais, a despeito de todas as minhas tentativas posteriores. [veja que coincidência, a Baby Consuelo acabou de passar do meu lado, e logo em seguida, toca uma música do Pepeu Gomes na rádio... “eu só quero você e mais nadaaaa”, segundo o locutor, foi trilha sonora de Roque Santeiro].
Mas o que me deu a deixa para o texto de hoje não foram minhas lembranças filiais. Vinha eu no ônibus para o Galeão, queria ouvir uma musiquinha, mas não pus nada novo na minha playlist e já escutei à exaustão tudo o que tinha no celular. Experimentei por no rádio. Quantos anos eu não escutava rádio? Não sei, mas acredite, faz muitos... tipo uns seis ou mais. Então, fomos ao rádio. E lá estava eu na Ponte, escutando uma rádio carioca, noite, aquela vista panorâmica, o Rio todo iluminado, o Cristo lá em cima, eu indo visitar minhas terras... e de repente toca Tim Maia: “Me dê motivos/ pra ir embora/ estou vendo a hora/ de te perder...”. Confesso que essa combinação me emocionou, deu uma pontinha de melancolia gostosa [como diz o Chico, todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo, e a mistura mourisca e negra do meu sangue, só potencializa isso].
Voltemos ao rádio [por falar nisso, se você ainda não viu “A era do rádio” do Woody Allen, veja!]. Ótimas e saudosas lembranças, advêm daí. Quando eu era criança, as noites de sexta, sábado e domingo tinham uma programação adorada por mim: ser DJ do namoro da minha irmã mais velha! Sabe como é, todo irmão mais novo nutre certa idolatria pelo mais velho, e comigo não foi diferente. Tudo o que minha irmã fazia me interessava, além de causar certa pontinha inveja, porque eu queria fazer tudo o que ela fazia, mas nem preciso dizer que não podia, né? Principalmente no tocante a namorar [e agora toca Ivan Lins “quero sua risada mais gostosa, o seu jeito de achar, que a vida pode ser maravilhosa”].
Como disse, o namoro da minha irmã adolescente era toda sexta, sábado e domingo. Ela namorava num tipo de terraço/área que ficava do lado de fora da casa. Eu, obviamente, não tinha permissão para ir lá atrapalhar [o nome do namorado dela era Wagner, o rapaz era o sucesso do bairro], mas nada me impedia de ficar na sala ouvindo música, né? E eu ficava lá com o som ligado, deitada no chão, ouvindo rádio, pulando de estação em estação, escolhendo a trilha sonora do namoro da minha irmã. Sempre deixava nas músicas que julgava mais apropriadas, mais bonitas, que iriam sensibilizar o casal... e não é que a coisa deu certo? Eu virei parte do namoro dos dois, e embora de onde eu ficasse, não fosse possível vê-los, de alguma maneira nós interagíamos. Depois de alguns meses, chegamos ao ponto no qual, quando eu trocava de estação e eles não aprovavam a nova escolha, Wagner colocava a cabeça na porta e dizia: “Ah, volta para aquela música, aquela é mais bonita!”.
Às vezes, na manhã seguinte, minha irmã comentava das músicas que tinha escutado. O fato é que virei uma espécie de mascote dos namorados, um mascote invisível que ficava na sala, escolhendo sabe-se lá com que critérios infantis, as músicas que provavelmente viraram trilha sonora daquele amor [que não deu certo, o namoro só durou uns seis ou sete meses]. Minha atividade agradava a todo mundo: à minha mãe que tinha uma garantia dos bons modos do namoro de minha irmã, pois eu estava sempre por perto; ao casal que se divertia com as músicas; a mim, que me sentia o máximo com isso [sabe como é criança, se empolga com cada coisa]. Suspeito que meu pai seria o único que desaprovaria, mas ele não sabia, dormia cedo e não via a minha movimentação. Acredito que minha mãe nunca comentou com ele, pois, com certeza painho iria reclamar, e ela perderia tão vigilante presença da honra da minha irmã.

P.S.: o texto continua na próxima postagem. Quis encerrar por aqui para não ficar muito grande [o rádio toca “Ne me quittes pas”]

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Contar e ouvir histórias com a Sedova

Vários anos depois, diante da folha do Word em branco, o autor desse post haveria de recordar aquela tarde remota (era noite, mas para manter o foco na referência fica tarde mesmo) em que revelações foram rasgadas sobre a grama do CCHLA. Encontravam-se dispostos em posições de yoga num papo descontraído alguns integrantes do Centro Acadêmico de História da UFPB e alguns agregados. Muito mais do que revelações pessoais daqueles presentes, o centro do debate eram revelações sobre os não presentes, mas isso era o de menos. Também se deram revelações daqueles ali reunidos (na minha cabeça já eram até motivo de bombação no Orkut).

Lógico que não vou falar a pauta. Mas é a lembrança mais antiga que tenho de uma conversa mais íntima com a Sedova. De lá para cá estamos no nível “temo que alguém leia nossas conversas do inbox do Face”. Perainda, não vá pensar que só conversamos assuntos proibidos pela Igreja. Acredito que o relacionamento construído chegou num ponto no qual me sinto a vontade e enriquecido em poder conversar sobre tudo com ela. Ela é minha amiga, grande amiga minha. Eu já vivi na casa dela. Eu gosto dela, me dou muito bem com ela. Converso com ela sempre. É para quem corro para desopilar sobre política, relacionamentos – os mais diversos –, conversar sobre História, Cinema e para não me prolongar nesse depoimento de Orkut esperem um blog que tenha o teor das nossas conversas, sobre o que gostamos de conversar e sobre o que nos faz lembrar um do outro.

Além do senso crítico, do embasamento, da inteligência, o que a torna uma pessoa com quem gosto de conversar – nem que seja no intervalo de 10 minutos entre uma procrastinação e outra – é a sua ironia e o seu cinismo para com quem e para os temas que pedem esse teor que só ela tem. Talvez quem melhor descreveu seu fazer “estoriográfico” foi Antônio Biá, em Narradores de Javé, que diz:

Uma coisa é o fato acontecido, outra coisa é o fato escrito. O fato acontecido tem de ser melhorado no escrito de forma melhor para que o povo crêia no acontecido.

Para isso ela lança mão do exagero. Onde havia um cochichado no ouvido, ela coloca um grito que foi escutado por todo o bar. Onde há 1 indivíduo, ela coloca a população da China. Assim, nesse nível. Mas ela não inventa. É fidedigna aos fatos (aumentado).
Não, eu não julgo quem aumenta, ou quem inventa um pouco. Para mim todo mundo é um pouco literato, cronista, Gabo, Machado ou jornalista de jornais vendidos a 25 centavos, principalmente aquelas pessoas que são mestres na Escola da Fofoca e foram orientados pelas vizinhas que se aglomeram nas calçadas, todas com um pano de prato no ombro, um avental sendo desamarrado ou uma vassoura para se apoiar enquanto comentam sobre a filha de Fulaninha que foi “bulida” por Sicraninho (mas não comentam muito porque sempre há uma panela no fogo prestes a queimar).

Para mim toda conversa que se propaga é como a brincadeira do telefone sem fio e eu apoio e admiro quem tem esse dom de colocar um “nome feio” ou mudar toda a frase no meio da brincadeira. Mas na “vera” eu não posso ser o alvo das maledicências, pois daí eu condeno esse povo que fala demais.

Esse blog não será de fofoca. Será de que mesmo, Jana? De tudo mesmo? Aceitei o convite com muita honra. Daí lembro que tenho outro acordo com outra amiga, que se parece muita com essa minha companheira de blog, que também é de criar um blog para escrevermos sobre nosso gosto trash. Espero que esse Balaio me motive a cumpre com minha palavra com a amiga Parga. Espero também que nos motivo a concluir outro Balaio de Gatos, que desde 2006 (?) está ali miando para ganhar as telas.

Eu sou preguiçoso para escrever e ler, não foi à toa que atrasei a entrega da minha dissertação e, pior, demorei a escrever meu primeiro post no Balaio de Gatxs. Devido a esse problema, adoro copiar e colar outros escritos meus, de outros blogs abandonados por preguiça. Mas creio que estou melhorando. Hoje é o décimo dia que tomo staphysagria (tive que digitar no Google porque não decorei como escreve e imagine pronunciar... errei na primeira vez que fui pronunciar para fazer o orçamento e hoje errei várias vezes – sempre digo ou leio “várias vezes” com a voz da Vanessão na minha mente – no retorno à homeopata) e hoje disse à homeopata que acho que estou mais concentrado e obstinado a concluir projetos, inclusive terminei a leitura de alguns livros e iniciei outras. Acho que escrever esse post me faz acreditar que ter pagado caro em remédio homeopático valeu à pena, mas isso eu não falei a ela. Mas preciso de gotas para manter o foco nesses projetos, principalmente nos parágrafos escritos e não mudar muito de assunto. Sempre quis escrever como realmente as palavras aparecem na cabeça quando estou deitado para dormir, ou quando venho no ônibus olhando a paisagem urbana, ou rural, e contemplando meu reflexo na janela, chovendo, as luzes dos faróis ajudam a dar o tom na água que escorre pelo vidro... é tão poético. E sobre o copiar e colar, inclusive, a frase anterior foi copiado de um post do meu Fotolog, o qual não tenho mais a senha.

Espero que esse balaio renda muito miado e muído. E parafraseando a decadente Danuza Leão (nossas referências serão amplas), este blog servirá para afastar meus fantasmas e me dar leveza. Que comece a mística rs

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Tudo começa debaixo de um pé de árvore

A proposta foi dada "e aí, topa fazer um blog comigo?", e logo foi aceita!

Parceiros já de longas datas, o que impressiona é somente que não tenhamos feito isso há mais tempo.

A ideia é que façamos desse espaço um lugar nosso, um nosso que não é só meu e dele, mas de tantas outras pessoas, de tantos laços, de tantas histórias...

Theodoro contribuíra com o "jeitinho dele", um rapaz que todo mundo apoia, todo mundo admira, quando ele passa nos cantos, todas as vozes o chamam.

Sedova que, ao contrário do rapaz, não dispõe da simpatia geral, oferecerá seu humor constante e ácido.

Tudo o que for postado aqui é de nossa inteira (i)responsabilidade. Com o tempo, esperamos deixar isso aqui com a nossa cara, ajeitando com carinho e cuidado esse cantinho. Ficará mais bonitinho, jeitoso e engraçado.

Agora, sem maiores delongas, é aberta a temporada de caça ao tédio!